O mês de agosto é visto na tradição popular como o mês do desgosto, do azar, dos ventos. Na Igreja, cada domingo deste mês, é dedicado a uma vocação específica: sacerdotal, matrimonial, vida religiosa e laical. Neste primeiro domingo se recorda, portanto, a vocação sacerdotal em sintonia com as leituras próprias do dia. Assim, temos Deus que chama o profeta Elias; Paulo que fala com uma grande tristeza e dor contínua sobre os seus compatriotas e, Jesus que convida Pedro para caminhar sobre as águas do mar.
As novas diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil (2011-2015), no número 48, destacam que nosso tempo "traz em si uma ambigüidade. Estamos num tempo de muitas falas, muitos ruídos, muito barulho... o mundo fala, mas tem sede de palavra que guia, tranqüiliza, impulsiona, envolve ajuda a discernir".
Como distinguir a voz de Deus nos dias atuais diante de tantas vozes no mundo? As leituras deste domingo nos dão os passos para discernir e optar por ela. Tanto a primeira leitura (1 Rs 19, 9.11-13) como o evangelho (Mt 14, 22-33) falam de barulhos e tempestades. O profeta Elias na expectativa de ver o Senhor põe-se na espera (1 Rs 19,11) e nela, é surpreendido por um vento impetuoso e forte; por um terremoto e por um fogo; posteriormente a tudo isso, é que se aproxima num murmúrio de uma leve brisa (1 Rs 19, 12) o Senhor sendo, portanto, esta voz silenciosa e impulsionadora.
A mesma sensação de agitação aparece no Evangelho quando a barca que os discípulos estava era sacudida (Mt 14, 24) pelas águas do mar. Eles demonstravam-se esmorecidos diante do medo, haja vista que o mar, na mentalidade judaica, era o lugar do medo, do não dominado, do mal, de onde vinha o Leviatã, o demônio.
Podemos notar que, tais desafios anteriores, tornam-se os mesmos de hoje comparados nas situações de quem segue Jesus. Toda vocação configura-se na moldura de um tempo de tempestades e brisas suaves. A vocação de Elias é marcada por estes acontecimentos: ele tem um contato próximo com Deus; fala em nome de Deus; apresenta medo em assumir a missão e suas conseqüências inevitáveis. No entanto, em meio a tudo isso, Deus não deixa sozinho o seu escolhido, pois Ele está sempre presente em todos os momentos, diz Mateus, que era por volta das três horas da manhã que Ele chegou até os discípulos. Pode ser que em meio a tantas vozes ofuscantes muitos cheguem a pensar que Jesus seja um fantasma (Mt 14, 26) em suas vidas, um "simples caminheiro" objetivando limitar suas liberdades e o seu modo de pensar e agir.
Porém, a finalidade de Jesus é nos salvar. Ele quer nos pegar pela mão (Mt 14, 31) nos colocar na "barca" de volta e, acalmar nossas tempestades, muitas delas oriundas, de outras vozes como era as dos concidadãos de Paulo que deixaram de ganhar a herança dada por Deus para seguir os seus próprios caprichos (Rm 9, 1-5).
A voz de Cristo que ecoa por meio da pergunta: por que duvidaste (Mt 14, 31) torna-se bem presente para todos nós. Ela deve ser a nossa resposta diante das dúvidas, medos e tempestades. Nesta mudança de época não podemos mais continuar tentando caminhar sozinhos como se fossemos super-heróis. É preciso retornar a barca, a Igreja, como lugar seguro, apesar do mar violento e perigoso. A voz de Deus sempre estará mergulhada pelas realidades do mundo, mas só ela poderá nos animar e, assim cantarmos confiante a música: "se as águas do mar da vida quiserem te afundar, seguras nas mãos de Deus e vai..."
Wagner Carvalho
Seminarista Quarto Ano de Teologia
Seminarista Quarto Ano de Teologia
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