Pintura de Caravaggio
Os evangelhos proclamados nestes dias são marcados pelas aparições do Jesus ressuscitado aos discípulos que estão marcados pelas alegrias, dúvidas, tristezas e medo. O clima é tenso. Uns o vêem e proclamam: vimos o Senhor! Outros saem desolados e caminham ao povoado enquanto ardem os corações. Neste segundo domingo da páscoa, temos uma dupla aparição de Jesus, além disso, celebramos outros fatos significativos como o chamado domingo da Divina Misericórdia, o Dia do Trabalhador, e a Beatificação do Papa João Paulo II.
Neste domingo não temos leituras do Antigo Testamento porque ele cede seu lugar ao Novo. Temos, portanto, um dos mais comoventes discursos de Pedro sobre a Ressurreição de Jesus. Por isso, o cheiro de vida nova perfuma os lares dos cristãos que vivenciaram santamente a ressurreição de Cristo. Mas como proclamar a sua ressurreição nos dias de hoje? Como Ele continua presente em nossas comunidades, em nossas vidas?
Nas experiências pastorais encontramos muitas pessoas que justificam as suas ausências na comunidade, nas missas, por já rezarem em suas casas, em seu quarto, lembrando daquela passagem que diz: quando fores rezar, entra no teu quarto, fecha a porta e reza a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, te recompensará ( Mt 6, 6 ). Não vamos, porém entrar aqui no contexto da citação porque lá a questão é outra, mas a citaremos apenas para buscar respostas no Evangelho deste domingo.
Para melhor entender, podemos dividir o Evangelho deste domingo em dois momentos: o primeiro dos versículos 19 a 23 e o segundo dos versículos 24 a 31. No primeiro momento, Cristo se apresenta aos discípulos reunidos no primeiro dia da semana num clima de medo por causa dos judeus. Ele então chega e os saúda por duas vezes com "a paz esteja convosco" e sopra sobre eles dizendo recebei o Espírito Santo.
No segundo momento o evangelista relata a reação de Tomé. Este não estava presente no primeiro momento, ou seja, no primeiro dia da semana, mas se fazia presente oito dias depois. Era a sua vez, pois sussurrou da incapacidade de Cristo ressuscitar e só acreditava se colocasse seus dedos nas marcas dos pregos em Jesus.
Esta atitude nos leva a pensar na sociedade em que vivemos e como temos muitos "Tomés" inseridos nela. Infelizmente presos na sua primeira fase, ou seja, em desacreditar no Cristo. A ciência cada vez mais avança e, quer de qualquer modo, provas suficientes. Precisa tocar, sentir, experimentar. Sem falar de tantos que já não fazem mais a caminhada de Igreja, estão sempre ausentes da presença do Senhor, nas missas no primeiro dia da semana, isto é, aos domingos. A estes, o Evangelho responde que, quem não está na comunidade não vê o senhor.
Por outro lado, o encontro com o Cristo ressuscitado se dá na comunidade reunida. Ausente no primeiro momento, Tomé não acredita naquilo que os outros discípulos disseram, mas uma vez estando presente, na mesma comunidade, ele se encontra com o Senhor Ressuscitado e pode, então, professar sua fé: meu senhor e meu Deus (Jo 20, 28). De fato, o mistério de Cristo e o mistério do homem são inseparáveis, por isso, a Igreja nasce desta presença gloriosa e vive nesta presença, não se limitando a transmitir uma simples história.
Entretanto a paciência do Cristo ressuscitado para com aqueles que precisam tocar, pegar para crê, ou aqueles afastados da comunidade de fé vai mais distante do que podemos imaginar. Diz o evangelista que oito dias depois Cristo voltou. Interessante perceber aqui é que ele é quem vai ao encontro do grupo reunido com as portas fechadas. É viver em comunidade que se faz aproximar de Cristo e se percebe as dificuldades e necessidades dos outros, pratica o desapego e vive na paz do ressuscitado. Tudo isso nos leva a evitar que o cristianismo não é uma ideologia e uma vida espiritual de recordações, nem muito menos de uma observância moral ou exigência ascética, mas uma comunidade que se reúne convocada pelo próprio Senhor que se torna presente e atuante na mesma.
Portanto, celebrar o dia do Senhor nos possibilita fazer uma experiência do Senhor ressuscitado que se coloca em nosso meio com as marcas da nossa humanidade, mas ao mesmo tempo, nos indica outros sinais que não foram escritos, nem vistos, mas pelos olhos da fé, nos são assegurados. Por isso, com a sua ressurreição nascemos para uma esperança viva que não mancha e nem murcha (1Pd 1, 4).
Por Wagner Carvalho
Seminarista do 4º Ano de Teologia
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