O preço da condenação e o valor da salvação
Com a celebração do Domingo de Ramos damos início a Semana Santa. A liturgia deste dia traz presente um duplo movimento. De um lado, o mistério do despojamento total de Cristo tornando-se igual aos homens, do outro, seu senhorio e glorificação aclamada como Filho de Davi.
Para entendermos este duplo movimento faz se necessário respondermos a pergunta que está no Primeiro Evangelho proclamado deste domingo. Em Mateus 21, 10 perguntam-se: quem é este homem? Nas demais leituras, inclusive no Evangelho da paixão podemos enumerar as seguintes respostas: para Judas, o traidor, Jesus é um escravo que tem o valor de sua época, ou seja, trinta moedas de prata (Mt 26, 15); para a multidão é o Filho de Davi (Mt 21, 9); para a cidade de Jerusalém ele é o profeta Jesus de Nazaré da Galiléia (Mt 21, 11); para Isaias, Jesus é o servo sofredor (Is 50, 4-7); para são Paulo, Cristo é o Filho de Deus que assume a condição de escravo tornando-se igual aos homens (Fl 2, 7); para Pilatos é o rei dos judeus (Mt 27, 11); para a sua mulher, é um justo (Mt, 27, 19); para os soldados de Pilatos, um rei (Mt 27, 28-29); por fim, após a morte de Jesus é o Filho de Deus (Mt 21, 54).
Contudo, a maneira como Jesus se apresenta contrapõe com estas concepções. Na verdade, Ele se manifesta como aquele que se angustia (Mt 26, 38); que grita Eli, Eli, lamá sabactâni (Mt 27, 46), mas igualmente como aquele que podia apelar ao Pai e este o colocava a sua disposição doze legiões de anjos (Mt 26, 53).
Todavia, nos chama ainda atenção a figura daqueles que se envolvem na cena da sua entrada e condenação em Jerusalém. Há poucos dias eles tinham presenciado a ressurreição de Lázaro e, se confirmavam cada vez mais as suas esperanças do Messias anunciado pelos profetas, de tal forma que se preparavam para ver e acompanhar a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém.
No entanto, o cenário aos poucos muda. Os cidadãos de Jerusalém têm dúvidas e perguntam quem é este homem. Os discípulos com quem Jesus conviveu os três últimos anos começam a se dispersar. Judas, por trinta moedas entrega Jesus. Pedro por três vezes O nega.
O que tudo isso tem a ver com os dias atuais? As nossas atitudes como discípulos de Jesus podem ser as mesmas do afastamento dos discípulos do Mestre de ontem. Quantas vezes Cristo não desce até a nossa fragilidade, fazendo-se um fraco como nós, para nos resgatar e dar uma nova chance? Por quantas vezes Ele não caminhou conosco, nas estradas, nos reerguendo ou nos fazendo chorar para que derramemos nossa alma diante d?Ele?
Talvez o sono dos discípulos de ontem seja a nossa mesma sonolência diante do convite de Jesus para rezarmos e vigiarmos mais. Os mantos vermelhos e as moedas de pratas estão sempre presentes em nossa realidade e podem nos transformar em seguidores de Jesus às escondidas. O que deve, de fato, nos marcar são os sofrimentos do povo que desatina no eco das estradas e ergue ramos de esperança em busca de um mestre que aclame e mostre o Filho de Davi!
Concluindo podemos nos perguntar: para quais dos movimentos, ascendente ou descendente, o nosso seguimento está direcionado? Será que nos encontramos presos nos esvaziamentos da vida, nos preço das condenações, nos vasos de barro das moedas como fez Judas, que não superou o remorso e preferiu desistir da sua própria vida? Ou agimos como Pedro, que reconhece a própria fraqueza, arrepende-se e chora amargamente, confiando, acima de tudo, na glória do Senhor ressuscitado, no valor da salvação? Eis o nosso julgamento.
Por Wagner Carvalho
Seminarista do 4º Ano de Teologia
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