Quando rezamos a nossa profissão de fé, o Creio em Deus Pai, pronunciamos que Jesus subiu ao céu e isso nos coloca em sintonia com a solenidade que celebramos. Mas, o que significa, então, dizer que Jesus subiu ao céu? infelizmente em nossos dias herdamos uma concepção e compreensão errônea de "céu". Os antigos pensavam que o universo tinha três partes: o céu lá em cima, morada de Deus e dos anjos; a terra no meio, morada dos mortais; e o mundo inferior, embaixo da terra, local de repouso dos espíritos mortos, no entanto, interessante é notar que se trata de uma única realidade. Nessa visão, Deus estaria acima do mundo dos mortais, mas não fora dele. É dentro dessa concepção que os Atos dizem que "Jesus subiu ao céu".
Contudo, o modo como Jesus se mostra no Evangelho nos leva a compreender a sua pedagogia de Mestre. Ele se revela na Galiléia, lugar onde Ele mesmo deu início a sua missão e é lá o monte indicado por Ele para que seus discípulos tenham mais uma experiência com o ressuscitado. Aqui Cristo já nos adverte: participamos da nossa vida n?Ele do lugar em que fomos batizados, do lugar que demos início ao seu seguimento.
Embora Cristo indique o lugar certo no qual podemos nos encontrar com ele, durante o caminhar rumo a "montanha" muitos chegam a duvidar (Mt 28, 17). Esta atitude não comporta penas uma falta de fé, mas também falta de percepção maior da prática de Jesus que vence todas as formas de injustiça e morte do povo. Aliás, a dúvida daqueles discípulos pode ser também as nossas com medo do risco e do compromisso com a prática da justiça.
Porém mesmo diante da insegurança de alguns dos seus discípulos, Jesus dá uma instrução: ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei (Mt 28, 19). Nisto não só está próxima como é entregue por Jesus à comunidade cristã e cabe a ela, a partir de agora, a missão de levar o Reino de Deus adiante. Ela deve anunciar a fórmula trinitária deixada por Jesus a qual concede a cada chamado a salvação ontológica e, em seguida, ensiná-los a observar tudo constituindo assim, uma salvação moral.
Por fim, Cristo ainda nos deixa uma promessa: "Eis que eu estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo" (Mt 28, 20). É uma despedida de quem ama de verdade. Chega o tempo do retorno, mas ainda deseja continuar presente. Porém a subida de Cristo ao céu nos dá também uma nova esperança segundo a qual já participamos da sua salvação. A nossa humanidade é precedida pela humanidade de Cristo que entra na glória de Deus e nos faz participantes do seu poder.
Por isso, Cristo não ficou vagando pela terra depois de ressuscitado por quarenta dias, aparecendo aos seus discípulos como um fantasma ou uma alma desencarnada, ou ainda como viajante que se arrepende na hora de partir e protela o seu retorno, mas ele quer nos chamar a atenção de que a missão agora cai em nossas mãos como dizia São Leão Magno: aquilo que era visível no Senhor Jesus, passou para os sacramentos, portanto, ao celebrá-los estamos entrando na glória de Jesus como um novo modo de presença de Cristo para nos dizer que Ele está conosco até o fim do mundo.
Por Wagner Carvalho
Seminarista do 4º Ano de Teologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário