Apóstolos da Igreja de Jesus
O livro dos Atos dos Apóstolos narra as atuações de Pedro e Paulo mais dos que as dos outros apóstolos. Ele começa mencionando as grandes pregações de Pedro, o Querigma, e encerra sua primeira parte narrando às prisões do mesmo e a sua libertação miraculosa (At 1-12). Em seguida, relata as ações de Paulo, de sua conversão até a sua morte (At 13-28). Deste modo, o livro apresenta as colunas por meio das quais se fundamenta a Igreja.
Mas qual é a importância da memória destes santos nos dias de hoje? No Brasil, eles são bem conhecidos e recordados pelo nosso povo, sobretudo neste período junino, ao lado de Santo Antônio. São muitos os que "pagam" suas promessas agradecendo a Eles pelas graças alcançadas e, assim cada vez mais se tornam queridos e protetores dos nossos fiéis.
Os evangelhos sempre apresentam Pedro como o discípulo que toma, por primeiro, iniciativas. São inúmeras as passagens que ele responde a Jesus, ora positivo, ora negativamente (Mt 16, 16; Mc 8, 33).
Paulo, por sua vez, é aquele que, de perseguidor de Cristo, passa a ser perseguido pelos judeus, por causa de seu amor apaixonado pelo Cristo ressuscitado. Certa vez São Fulgêncio (+ 533) falando sobre a conversão do Apóstolo dos gentios num de seus sermões dizia: Saulo, o judeu, esperando tornar-se Paulo, o cristão, perseguia aquele que ia ser. E eis que, de repente, foi transformado em apóstolo. Ele é enviado pelos antigos do seu povo para aquele que ia salvá-lo pelo sofrimento. É enviado para tornar-se cego. Se ficou cego, foi para ver o verdadeiro caminho. Perde a visão corporal, mas o seu coração é iluminado, para que a verdadeira luz brilhe ao mesmo tempo aos olhos do seu coração e do seu corpo. Ele é enviado para que esse Paulo, que Saulo perseguia, abraçasse enfim, a fé. É enviado dentro de si mesmo, para se buscar a si mesmo. Estava errante em sua própria companhia, viajor inconsciente, e não se encontrava porque, interiormente, tinha perdido o caminho. Por isto é que ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo: por que me persegues? Quer dizer: Saulo: por que persegues a Paulo? Volta, sim, volta os teus passos do caminho de Saulo, para encontrar a fé de Paulo. Tira, Paulo, a túnica da tua cegueira, e reveste-te do Senhor. Rejeita o que és, para que te tornes o que não és ainda. Eu quis manifestar em tua carne a cegueira do teu coração, a fim de que possas ver o que não vias, e não sejas semelhante àqueles que têm olhos e não vêem, ouvidos e não escutam. Que Saulo volte com as suas cartas inúteis, para que Paulo escreva as suas Epístolas tão necessárias. Que Saulo, o cego, desapareça, para que Paulo se torne a luz dos fiéis, pois eis para mim aqui um instrumento escolhido... Vem, pois, Paulo, deixa lá o velho Saulo, em breve merecerás ver também a Pedro (H. CRISTIANO, 2009, p. 30-31).
Tudo isso nos ajuda a identificar que a importância destes santos apóstolos não se resume nos seus próprios méritos. A causa primeira está em Cristo, Aquele que chama e confia nos homens, afim de que estes continuem o projeto de seu Pai que estás nos céus.
O evangelho desta solenidade assim apresenta esta realidade de confiança. Jesus pergunta aos discípulos algo sobre Ele mesmo e no final, lhes entrega as chaves do Reino dos céus (Mt 16, 19). Nos dias de hoje vale a pena perguntar a quem Jesus confia a sua Igreja e, mais: quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (Mt 16, 13). Na verdade, não são poucos os que se apresentam como os "pedros e os paulos", apóstolos do novo tempo, que fazem pesquisa de opinião pública a seu respeito a fim de apresentar Cristo como à chave de suas necessidades.
Deste modo, assim como muitos, no tempo de Jesus, pensava ser Ele um profeta com sua identidade incerta (alguns pensava que era João Batista, outros Elias, outros ainda Jeremias ou alguns dos profetas, cf. Mt 16, 14), nos dias de hoje a mesma dúvida se apresenta. Porém, Cristo quer saber de nós, cristãos comprometidos, seus discípulos, o que dizemos quem é Ele em nossas vidas.
Por isso, a memória de Pedro e Paulo, nos faz recordar nossa decisão pessoal por Cristo e, assim professar dizendo que Ele é o Messias, o Filho de Deus vivo. Não podemos continuar sendo cristãos perseguindo a nós mesmos. Pessoas que pelo batismo recebem o nome de cristãos e se tornam igreja, mas continua perseguindo a si mesma e a própria Igreja. No fundo, é o seu "eu exterior" perseguindo o "eu interior"; o Saulo perseguindo o Paulo, o cristão perseguindo a própria Igreja.
Peçamos, pois a Cristo a mesma fidelidade que concedeu aos apóstolos Pedro e Paulo, para que, no final de nossa jornada, numa atitude de humildade e reconhecimento, dizermos: "combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé" (2 Tm 4, 7).
Wagner Carvalho
Seminarista do Quarto ano de Teologia
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