A liturgia do décimo terceiro domingo do tempo comum apresenta a hospitalidade como tema de reflexão. Interessante observar nela a atitude de quem se hospeda e de quem acolhe o hóspede.
O itinerante é aquele que sai deixando suas raízes, seu pai, sua mãe e toma a sua cruz (Mt 10, 38). Ele parte rumo às novas experiências levando também aquilo que é de mais íntimo do seu ser, ou seja, sua particularidade e seu modo próprio como pessoa. Aos poucos, manifesta os seus carismas, dons que passam ser observados pelos demais.
Eliseu se encaixa nesta situação de tal modo, que depois de muitos anos foi se expressando aquilo que era mais peculiar do seu ser. A senhora de Sunam assim comentava sobre ele: "tenho observado que este homem, que passa tantas vezes por nossa casa, é um santo homem de Deus" (2 Rs 4, 9).
A hospedagem feita por esta senhora não se baseava nas ofertas e promoções com a finalidade de atrair os visitantes como se faz muito hoje, os donos de hotéis, mas a sua motivação foi mais além: era o modo como se comportava o itinerante que chamava sua atenção.
Aqui entra em cena a figura de quem acolhe. Primeiro, se deve destacar a sua disponibilidade, depois a confiança. A mulher Sunamita insiste para que Eliseu fosse comer em sua casa (2 Rs 4, 8). É um gesto de mais pura disponibilidade e isso gerou a segunda, ou seja, a confiança: "façamos para ele, Eliseu, no terraço, um pequeno quarto de alvenaria, onde colocaremos uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro" (2 Rs 4,10). A intenção saudável do itinerante gerou na senhora o gesto de acolhida e solidariedade. Hoje infelizmente, por conta da insegurança e das más inclinações de alguns na sociedade, se tornou desafiante a hospedagem por "ninguém saber o que eles querem!".
O fruto da hospedagem não é apenas para quem é recebido, mas também para quem dá hospedagem. Quem acolhe um homem de Deus não fica sem aquilo que é de mais precioso: "daqui a um ano, neste tempo, estarás com um filho nos braços" (2 Rs 4,16). E o evangelho dá esta mesma segurança: "quem recebe um profeta por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der ainda que seja apenas um copo de água fresca a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, não perderá a sua recompensa" (Mt 10, 41-42).
Mas quem devemos acolher em nossas casas, em nossas vidas, nos dias de hoje? Como já mencionamos se torna um desafio, pois são muitos os que aproveitam de tal situação para se darem bem. Além de assaltantes, quantos avós e "pais de criação" deram hospedagem no início da vida aos netos e filhos e, agora são surpreendidos por eles em quererem exigir direitos a mais do que lhes são concedidos?
Do mesmo modo, na Igreja, são muitas as pessoas que acolherem em suas vidas "profetas" por meios de suas palavras e testemunhos e, depois, revoltaram suas inocentes consciências. A este respeito o evangelho deste décimo terceiro domingo do tempo comum é severo. Aliás, Jesus já orienta para termos cuidados com os falsos profetas que vêm vestidos com peles de ovelhas, e que por dentro são lobos ferozes (Mt 7, 15). E qual é a dica então para distingui-los?
O verdadeiro profeta contém uma configuração perfeita entre ele e o Mestre a tal ponto D?ele dizer: quem vos recebe a mim recebe; e, mais: hospeda "no terraço, num pequeno quarto" (2 Rs 4, 10); perde a sua vida por causa de Cristo (Mt 10, 39); e é um desses pequeninos (Mt 10, 42).
Portanto, não faz parte do verdadeiro discípulo de Cristo, o brilho, o conforto e sim a cruz, o acolhimento, a generosidade e o anúncio do evangelho aos pobres e oprimidos que não se encontram hospedados na sua garantida promoção humana.
Por fim, agradeçamos a Deus por tantas pessoas já terem nos hospedados e que fizeram de suas casas nosso "pequeno quarto". Queremos ser esses pequeninos discípulos da "vida nova" (Rm 6, 4) para que o mundo torne-se cada vez mais a hospedagem do evangelho de Cristo pregado pelos santos homens de Deus.
Wagner Carvalho
Seminarista Quarto ano de Teologia
Seminarista Quarto ano de Teologia
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