sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Igreja assistida pelo Espírito Santo


Durante os cinqüenta dias da páscoa fizemos recordações dos sentimentos de dor, morte e ressurreição dos discípulos de Jesus e as aparições do Mestre a eles, ora caminhando, ora aparecendo quando se encontravam reunidos. No dia de Pentecostes, porém a comunhão com o ressuscitado é completada, levada à plenitude, pelo dom do Espírito, que continua em nós a obra do Cristo e sua presença gloriosa.
Mas qual é a mensagem central da liturgia desta celebração? Por que Lucas a apresenta cinqüenta dias depois (I leitura) e João ao anoitecer do mesmo dia? Será que Cristo não teria cumprido plenamente o seu projeto e agora quer deixar o Espírito para completar? Ou será que Ele então, confia a Igreja para que ela, assistida pelo Espírito, perda o medo e comece anunciar o evangelho?  E mais: em um mundo tão materialista, racional, científico, será que há espaço para o Espírito Santo? E os dons e carismas que possuímos são frutos da nossa docilidade ao Espírito ou aduzimos aos nossos próprios esforços e caprichos?
Comecemos pela origem desta solenidade. Pentecostes remonta a uma festa judaica, celebrada cinqüenta dias após a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus a colheita da cevada e do trigo; mas, no século I, tornou-se a festa histórica que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus. É neste sentido que entendemos a primeira leitura (At 2, 1-11).  O número de judeus devotos de todas as nações do mundo presentes naquele momento remete a celebração da terceira grande festa (Páscoa, Tabernáculos e celebração da Aliança) em que eles subiam em romaria a Jerusalém para celebrá-la.
É aqui que Lucas quer destacar a missão da Igreja para fora dos "seus muros". O sopro do Espírito se faz perceber como um vendaval ao ouvido, como fogo aos olhos e, assim transforma um pequeno rebanho de apóstolos reunidos em Igreja missionária. O prefácio desta solenidade assim resumo formidavelmente: "Desde o nascimento da Igreja, é ele quem dá a todos os povos o conhecimento do verdadeiro Deus; e une, numa só fé, a diversidade das raças e línguas". 
Portanto, a Igreja assistida pelo Espírito Santo é aquela que anuncia a missão proclamadora como realização do próprio Senhor e não como um prêmio pessoal que cada um conquista com suas qualidades. Aliás, é neste sentido que Paulo (II Leitura) adverte que, do mesmo Espírito provém a multiplicidade dos dons, comparada às múltiplas funções que movimentam um corpo. Por isso, nossos dons e carismas devem ser postos em vista do bem comum (1Cor 12, 7), pois eles insurgem de uma única e mesma fonte: fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo e bebermos de único Espírito.
O Evangelho de São João, por sua vez, situa no anoitecer do dia de Páscoa a recepção do Espírito pelos discípulos. Como vimos nos "Atos", Lucas narra a descida do Espírito sobre os discípulos no dia do Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa e, já afirmamos também o motivo, que é sem dúvida por razões teológicas e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa judaica do Pentecostes, a festa do dom da Lei e da constituição do Povo de Deus.
Interessante percebermos na narrativa do evangelho (Jo 20, 19-23) a situação da comunidade antes de receber o Espírito. Ela está ao anoitecer com as portas fechadas e com medo (v. 19) É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar, no entanto, de repente Jesus entra e, se põe no meio deles e deseja a paz como fruto do Ressuscitado fazendo com que de repente, o clima mude.
É importante nos prender a essa mudança de sentimentos, isto é, quando uma comunidade quer caminhar sem Cristo, os inimigos os apavoram, o medo bate e os carismas e dons são vistos como conquistas pessoais. Em acréscimos pode ainda notificar o isolamento em seu próprio mundo sem espaços para o próprio Cristo. Será que nas comunidades cientificas há espaços para Cristo? Será que nos dias de hoje temos a abertura ao Espírito Santo para que ele entre em nossas vidas?
Cristo chega nos momentos difíceis dos discípulos e deseja a paz.  Eles se alegram, as esperanças voltam e a missão ressurge, mostra as mãos e o lado como testemunhas da doação total pelo Reino e sobra sobre eles o Espírito santo (v. 22). Jesus transmite então, aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados, como Jesus, para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar, com gestos e com palavras, o amor de Jesus.
Finalmente Jesus aponta a missão dos discípulos (v. 23): a eliminação do pecado. Pelo ministério recebido à luz do Espírito santo os seus discípulos podem perdoar ou reter os pecados. Esta é primeira missão a qual eles são chamados a testemunhar no mundo.
Portanto, no dia de Pentecostes, a páscoa de Cristo se realiza na efusão do Espírito Santo, que é manifestado, dado e comunicado como Pessoa Divina: de sua plenitude, Cristo, Senhor, derrama em profusão o Espírito (CIC, n. 731). Pudemos assim constatar, com alegria e gratidão, que "na Igreja há um Pentecostes também hoje, ou seja, que ela fala em muitas línguas; e isto não só no sentido externo de estarem nela representadas todas as grandes línguas do mundo, mas também, e mais profundamente, no sentido de que nela estão presentes os variados modos da experiência de Deus e do mundo, a riqueza das culturas, e só assim se manifesta a vastidão da existência humana e, a partir dela, a vastidão da Palavra de Deus". Além disso, pudemos constatar também um Pentecostes ainda a caminho; vários povos aguardam ainda que seja anunciada a Palavra de Deus na sua própria língua e cultura. (Bento XVI, Verbum Domini, n. 4)
Peçamos, pois ao Espírito Santo a docilidade para falarmos aos corações medrosos; as palavras certas para quem está preso no seu mundo e, uma língua aguçada para declamarmos o poema do amor caracterizado nos sinais que Cristo no deixou.
Wagner Carvalho
Seminarista Quarto Ano de Teologia

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