quinta-feira, 5 de maio de 2011

"O que ides conversando pelo caminho?"





Celebramos neste terceiro domingo da páscoa a ressurreição de Jesus que vem ao encontro dos discípulos e se faz um caminhante com eles. Em sua caminhada humana, Jesus freqüentemente toma a iniciativa de se aproximar propondo-se como o Caminho Verdadeiro que conduz à Vida. Ao lado dos sentimentos de todas as mães recordamos também o seu dia, elas que são geradoras da vida e testemunhas do Senhor na família e na sociedade.
O que ides conversando pelo caminho? Esta foi a pergunta que Jesus fez aos dois discípulos que iam para o povoado de Emaús. Na verdade, a imagem do caminho tem um destaque significativo na Bíblia, tanto num sentido teológico, tanto para o povo do Primeiro Testamento, como do Segundo. Só para dar um exemplo: na liturgia que celebramos, neste domingo, a imagem do caminho aparece por sete vezes.
Mas, antes de falarmos dele, ou seja, do caminho se faz necessário sentirmos o clima que afetava aqueles caminhantes do Evangelho, pois a desolação era grande, os sonhos tinham acabados e as expectativas de um rei triunfante não tinham passado do pesado lenho da cruz, enfim, suas esperanças tinham sido frustradas. Eles voltavam para recomeçar suas vidas entre as sombras do dia em declínio e a escuridão que ameaçava seus ânimos. 
Neste momento, Jesus se aproxima e começa a caminhar com eles. Como vimos, a iniciativa é de Jesus. Ele não interrompe o assunto, mas toma a atitude de caminhar com eles, escutá-los e descobrir sua realidade. A escuta é para entender o que se passa no caminho deles. Aproxima-se e dispõe-se a conhecer e sentir de perto as suas necessidades.
Nesse caminho, Jesus ouve as dúvidas e os questionamentos dos dois caminhantes, ou seja, é o próprio Cristo que caminha conosco. É ele que se aproxima e entra em nossa realidade. Ao contrário da atitude de Cristo, porém, muitas vezes damos respostas sem ouvir as perguntas. Vamos ensinando o que achamos necessário sem ouvir o que está no coração do ouvinte.
Interessante perceber ainda que um dos caminhantes não aparece seu nome na narrativa. E por que não aparece? Isso para mostrar que Jesus vem ao encontro não somente dos reconhecidos, daqueles que tem nome, mas, sobretudo, dos desconhecidos, dos excluídos, dos esquecidos, dos insignificantes que além de reconhecê-los, os inclui no convívio dos reconhecidos.
Entretanto, são muitos os aspectos que poderíamos destacar na liturgia deste terceiro domingo da páscoa. Poderíamos falar do Querigma, de Jesus como aquele que nos conduz a Deus, da glorificação de Cristo, do cumprimento das Escrituras, da catequese e da Eucaristia.
E é, pois, sobre este último aspecto, a Eucaristia, que desejo terminar a minha reflexão. Diz o evangelista que os discípulos reconheceram Jesus ao partir do pão. O que significa realmente "partir o pão hoje?"
Compreendo que não é apenas dar comida a quem está com fome, ou água a quem está com sede. Mas vai muito além, partir o pão hoje requer que nos esforcemos em abrir os olhos daqueles que estão cegos nas drogas; requer que aqueçamos os corações congelados do egoísmo, do subjetivismo; partir o pão hoje é partilhar a Palavra com aqueles que estão indo embora de nossas igrejas, que não participam mais de nossas celebrações.
Partir o pão, acima de tudo, nos leva a reconhecer o Cristo. Quantas pessoas não encontramos pelos caminhos da vida que estão sem esperanças? Quantas não reconhecem o Cristo nos caminhos de suas vidas? Quantas não pedem ao Senhor para que fiquem com elas? No entanto, a resposta certa o Evangelho nos dá: se os discípulos não insistissem para que Jesus ficasse, eles não teriam o reconhecido, ou seja, os lentos e sem percepção de hoje são os que não participam das missas, são aqueles que caminham pela vida, cai a tarde de suas existências e não abrem seus olhos para reconhecer o Cristo ressuscitado.
Concluindo, vejamos que as dificuldades da vida sempre fazem parte do nosso caminho. Porém, quando se caminha com esperança, as suas pedras não são tropeços porque a Luz Verdadeira ajuda a clareá-las e a retornar ao caminho para encontrar a comunidade reunida e aclamar: realmente o Senhor ressuscitou ou como reza o salmista: vós me ensinais vosso caminho para a vida junto de vós felicidades sem limites (Sl 15, 4).
Por Wagner Carvalho
Seminarista do 4º Ano de Teologia

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