O quarto domingo da páscoa é considerado o "Domingo do Bom Pastor". Jesus se apresenta como a porta e ao mesmo tempo, o Pastor que cuida das ovelhas desgarradas e as leva para o seu redil, por isso, o tema central da nossa reflexão se baseia na escuta da sua voz.
Neste quarto domingo da páscoa, de modo especial, a Igreja no mundo inteiro reza pelas vocações sacerdotais e religiosas, pedindo ao dono da messe que envie pastores segundo seu coração, homens e mulheres apaixonados pelo seu reino e pelas suas ovelhas.
Em um mundo cada vez mais tecnológico, marcado pelo consumismo, poder e relativismo das verdades plenas, falar de Jesus como o Bom Pastor ou a porta, bem como, usar figuras das ovelhas quando se referir às pessoas, talvez, sejam termos que não repercutem tanto nas realidades dos dias de hoje.
No entanto, Jesus se apresenta como o pastor, como aquele que conhece suas ovelhas pelo nome, ou seja, pessoalmente. Em outras palavras, para Cristo a pessoa vale mais daquilo que simplesmente ela produz. Ele chama cada uma pelo seu nome e, apresenta-se preferencialmente como "o Pastor", cuja ação se contrapõe a dos dirigentes judeus que se arrogam o direito de pastorear o "rebanho" do Povo de Deus, mas sem serem "pastores".
O pastor, por sua vez, é sempre diferente do mercenário. Aquele trabalha pelo bem de seu povo, sem esperar por recompensas e usa de sua autoridade para que o mesmo povo escute a sua voz. O mercenário, diferentemente, trabalha pelo salário e se servem das suas prerrogativas para explorar o povo e usam a violência para se manter sob a sua escravidão (bandidos). Aproximam-se do Povo de Deus de forma abusiva e ilegítima, porque Deus não lhes confiou essa missão ("não entram pela porta"): foram eles que a usurparam. O seu objetivo, portanto, não é o bem das "ovelhas", mas o seu próprio interesse.
Como então seguir a voz de Cristo, o Bom Pastor, nesta sociedade em que muitos se apresentam "sou eu" e assaltam a fé do nosso povo? Como se tornar um pastor verdadeiro, autêntico, uma vez que, as ovelhas se encontram também desgarradas (1Pd 2, 25) e procuram portas abertas para entrarem e encontrarem verdes pastagens? O que falar para tantas multidões que repetem a mesma aclamação daquelas que ao ouvirem Pedro no dia de Pentecostes, perguntaram: o que devemos fazer (At 2, 37)?
Em primeiro lugar, Cristo chama as "ovelhas". Ele chama-as pelo seu nome, porque conhece a cada uma. Não obriga ninguém a responder-Lhe; mas as que responderem ao seu chamamento farão parte do seu "rebanho". A essas, Jesus conduzirá "para fora" (Jo 10,3), pois o seu reino não é deste mundo e nem deve se instalar em antigas tradições, muitas vezes, geradoras de opressão e de escravidão; mas serem membros de uma comunidade humana nova, a comunidade do novo Povo de Deus. Depois, o "pastor" caminhará "diante das ovelhas" e estas Lhe seguirão (Jo 10, 4). Cristo indica-lhes o caminho, pois Ele próprio é "o caminho" (Jo 14,6) que leva à vida plena. As "ovelhas" seguem Jesus no caminho do amor e do dom da vida, a fazer d?Ele a sua referência fundamental, a aderir a Ele de todo o coração.
Mais do que nunca se faz urgente a missão do pastor nos dias de hoje. São inúmeras as portas abertas que, indicando aparentemente o caminho da felicidade, do dinheiro fácil, da fama, querem atrair nosso povo e seduzi-lo para o grupo "dessa gente corrompida" (At 2, 40). São muitas as portas, no entanto, a Porta verdadeira é a que se situa na comunidade dos fiéis a Cristo que testemunham a ressurreição de Cristo sendo Ele mesmo o acesso ao caminho da salvação tanto aos pastores, para entrarem, quanto aos rebanhos, para saírem rumo às pastagens. Como dizia o Papa São Gregório Magno: "nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim".
Para concluir utilizemo-nos de um "chavão" usado atualmente pela Igreja católica que é o de irmos atrás das pessoas afastadas da vida da comunidade de fé. Ora, a Palavra de Deus refletida para este quarto Domingo da Páscoa, apresenta Cristo como o pastor que vai à frente das ovelhas e estas o seguem; por que então devemos ir atrás daquelas que se encontram distantes se na verdade o pastor é quem as guia? Entendo que é pelo fato, de termos confundido o referencial da porta que é Jesus. Pode ser que de guias nos tornemos guiados pelo povo e seguimos as suas inclinações. Talvez tenhamos dado mais ouvidos a vozes de programas de maior audiência na TV do que a voz do Bom Pastor, que é o próprio Cristo. Tenhamos observados as fazendas e esquecido de olhar as pastagens onde nelas as ovelhas pastam. "Procuremos, portanto, alcançar essas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos dos céus... que a fé se afervore nas verdades em que acreditamos; inflame-se o nosso desejo pelas coisas do céu. Amar assim já é pôr-se a caminho" (São Gregório Magno).
Por Wagner Carvalho
Seminarista do 4º Ano de Teologia
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